Queríamos algo de intimidade com a natureza, dentro da mata, com visuais inesquecíveis, altamente selvagem. Nosso diretor de expedição, Clayton Maciel Machado não teve dúvidas, era hora de desbravar o Canyon Realengo, localizado no município de Morro Grande - SC.
Nossa jornada começou às 08:00, quando deixamos o carro no último local acessível e partimos com todo equipamento necessário para dois dias de aventura. São 8km de trekking até o início da subida e mais 8km de montanhismo, alcançando a impressionante variação de 1200m de altitude.
Até o início da subida o terreno é cortado pelo Rio Seco, o qual, diversas vezes sofre divisões e volta a ser um só. Sem pensar, molhamos as botinas com a maior sensação de ligação com a natureza. São diversas travessias que podemos apreciar a desfrutar e logo próximo aos 4 primeiros km da rota, saímos um pouco do caminho para conhecer as furnas. São impressionantes "tocas" escavadas dentro da montanha onde residiam os índios nativos. As várias entradas terminam todas em uma sala maior. Logo acima, em um mirante feito pelos indígenas, é possível ter uma visão panorâmica do início do caminho com algumas elevações rochosas aos cantos. Ótimo local para hidratação e alimentação.
Seguimos o trajeto e logo encontramos um grupo de fazendeiros descendo o canyon com gado, no total, 27 cabeças. Conversamos brevemente com o grupo, que nos informou que a trilha estava bem aberta, graças ao gado e que provavelmente o tempo estaria do nosso lado, com uma visão bem limpa lá em cima. Todo ano esses fazendeiros levam o gado para pastar na serra, no início do verão e antes do inverno trazem a boiada novamente. O grupo era composto por 5 homens. Foi a última presença humana até a nosso retorno.
Fizemos os 8 km até o início da subido com pouca dificuldade, recolhendo alguns limões e chuchus que encontramos pelo caminho. Agora a água não seria tão abundante e a facilidade já não seria nossa companhia. O topo do canyon ainda estava longe e o sentimento era misto: desejo de superação e apreensão pela grande quilometragem a caminhar.
Sem um apoio a viagem fica difícil, visto que o terreno é super acidentado e perigoso. Esse trajeto não é nenhum pouco aconselhável sem um guia, tampouco sem os equipamentos necessários, tais como uma botina para este esporte, mochilas adequadas, água, medicamentos, alimento, equipamento para acampar e demais acessórios como faca, facão, lanterna, cordas e outros.
O último ponto de água ainda fica um tanto quanto longe da chegada, então, é preciso abastecer e racionar. Lá pelo meio do caminho o cansaço já começa a atrapalhar e o peso da mochila torna-se um grande inimigo. Quando estamos chegando quase no descampado, no outro lado do canyon, o barulho mágico de uma cachoeira e do nosso lado, uma subida perigosa, onde atenção e cuidado são a principal arma.
A chegada é gratificante.
Ainda é preciso encontrar um lugar seguro para montar acampamento. O tempo estava fechado e logo iria escurecer. Lenha e água são fundamentais. Encontramos uma pequena fonte de água e montamos acampamento. o fogo já dava segurança, pois a temperatura começava a cair e o céu a ficar escuro. A refeição saboreada como um banquete, espetando a mente e fazendo dar valor ao prato de cada dia. Ah como é bom ter o que comer! Antes de nos recolhermos, uma linda surpresa, um graxaim (Pseudalopex gymnocercus) veio nos visitar. Câmera na mão para não perder as imagens desse animal que talvez, nunca tenha visto um humano.
Alvorada. Mágica. Encantamento.
Uma das cenas mais belas que já presenciamos, o sol nascente, quente, vivo, ali da montanha, no alto do canyon. Varias imagens impressionantes. Antes de desmontar acampamento, umas imagens na pedra cabeça de urso.Todo o caminho novamente, agora descendo. Antes de entrar na trilha, uma linda vista da garganta do diabo, uma bela formação rochosa vista de cima.
Agora o cansaço e o peso da mochila eram frequentemente lembrados. Mas chegar ao ponto de início é fundamental, pois lá, encontramos novamente repouso e alimento.
Na volta, tivemos a oportunidade de presenciar um dos animais mais perigosos e venenosos da mata atlântica, uma jararaca (Bothrops jararaca).
Na volta, tivemos a oportunidade de presenciar um dos animais mais perigosos e venenosos da mata atlântica, uma jararaca (Bothrops jararaca).
Partimos com a memória cheia de cenários maravilhosos, que poucos tiveram a oportunidade de presenciar, o coração cheio de vida e a alma repleta de paz.
Não se vence o canyon, a vitória é contra si mesmo. Há somente superação, crescimento e respeito ao canyon.
"Acolá, no alto da serra e do céu tão perto
É possível na noite as estrelas ouvir
Querendo no eterno ali residir
Em devaneio que logo desperto
Com amor,
Felipe Ferreira
"É vedado a reprodução de qualquer conteúdo deste blog, tanto textos quanto fotografias, sem a autorização expressa de seus autores, conforme artigo 29 da Lei 9.610/98. A simples menção da autoria não permite sua publicação. Informações, entre em contato pelo email contato@ferreiraemaciel.com.br"
Ainda no percurso sem subida é possível observar algumas formações rochosas que beiram os riachos. Mais adentro, quando a mata se fecha, essas formações se tornam paredões rochosos imensos.
Em devaneio que logo desperto
Absurdo não é, mas o frio esquenta
E os pés à fogueira descansam ao relento
Os olhos espertos, o graxaim atento
E o ar da floresta no pulmão acalenta
Só, nada solitário, lá no fim do mundo
Embaixo, pequenas as luzes da cidade
E o eu real espeta a mente lá no fundo
O que precisamos é de uma viagem
De encontro a si mesmo, à eternidade
Que leve a ser íntimo a vida selvagem"Com amor,
Felipe Ferreira
"É vedado a reprodução de qualquer conteúdo deste blog, tanto textos quanto fotografias, sem a autorização expressa de seus autores, conforme artigo 29 da Lei 9.610/98. A simples menção da autoria não permite sua publicação. Informações, entre em contato pelo email contato@ferreiraemaciel.com.br"
Início da jornada de 16km até o alto do Cânyon Realengo, um dos mais difíceis e mais belos do sul brasileiro.
No início do percurso é possível visualizar, ao fundo, o alto do cânyon, local onde passaríamos a noite.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgM2teUKp3Z3tehlQbFFdXr_oRfzbmWz1L0uZps7J0adMIT4eE15DLnO9DHgJFW_Z-frGoBl4Ms1qUPvhyPaPNK9mZhaMyBk2tDf-ofUn7gL8yLBP-6zaRonI_akF1MEgQumbC0FpMIpC7y/s1600/FeM_0005.jpg)
Esses diversos riachos que é possível atravessar durante a caminhada são recheados de pedras que com as chuvas, tornam-se rios perigosos.
Uma linda vista de um riacho com um paredão ao lado, cenários frequentes nos cânyons.
Água rasa e cristalina desenham pinturas pelos caminhos.
Uma Bromélia, planta da família (Bromeliaceae), nativa da Mata Atlântica.
Os belos cenários continuam. Para quem aprecia a natureza, não há lugar melhor.
Do interior das furnas, local onde residiam os índios
Diretor de expedição, Clayton Machado Maciel observa com auxílio de uma lanterna o interior da sala maior, nas furnas.
Vista privilegiada do mirante acima das furnas.
Água pura e cristalina, perfeita para tomar. Os riachos que encontramos durante a expedição são formados pelas cachoeiras que descem da serra e dos cânyons.
Gado sendo trazido pelos fazendeiros locais. Os animais ficam em cima do cânyon durante o verão, pois lá o pasto é abundante e no inverno, descem para as fazendas locais de Morro Grande - SC.
São dezenas de riachos atravessados, cada um com sua beleza e dificuldade.
Um dos contatos mais íntimos com a natureza é o pé na água e para quem gosta de se refrescar é uma ótima pedida, afinal, são diversos riachos para adentrar e visualizar as pedras e os pequenos peixes na água cristalina que desce da serra.
No último trecho do caminho, a subido é bem íngreme e exige cautela, afinal, um descuido pode originar uma queda fatal.
Acampamento já montado, com a fogueira acessa o a refeição sendo preparada. É preciso deixar tudo organizado antes do crepúsculo.
A noite, com o céu limpo, é possível visualizar as luzes das cidades litorâneas ao fundo, bem como as luzes das fazendas próximas. A luz da nossa barraca e da fogueira somam-se a poética e imprimem toda a beleza do cenário.
Com um pouco de sorte é possível pegar um céu limpo como esse e visualizar todas essas constelações. Abaixo, na foto, nossa bandeira hasteada no acampamento. Uma pintura mágica.
Uma das mais belas alvoradas que já presenciamos. O sol nasce entremeio aos cânyons e com ele, a energia que precisamos para encarar a descida. Uma cena inesquecível.
A pedra cabeça de urso, algumas fazendas lá embaixo e o sol nascente aquecendo, uma sensação sem igual.
Nosso diretor de expedição aproveita uns minutos para contemplar a beleza da natureza local. Um cenários sem igual, aqui pertinho, em Santa Catarina. Um local maravilhoso para brasileiros e estrangeiros, que devemos, é claro, preservar.
As botinhas ficam secando com o sol nascente e logo vão para os pés novamente, afinal, falta toda a descida.
A jararaca (Bothrops jararaca), animal nativo da mata atlântica, um dos maiores perigos dessas aventuras. Confunde-se com a vegetação e as folhas e geralmente habita margens de riachos e locais úmidos. Esta foi encontrada ao lado de um rio, exatamente no meio da trilha.